Quando Scoop vacilou na largada do décimo sexto, e último, páreo da programação deste domingo (26), em Palermo, na Argentina, algo veio rapidamente à cabeça dos turfistas: o recorde teria de esperar mais um dia. E, por bem da verdade, que diferença fariam 24 horas a mais, 24 horas a menos? Se estivéssemos falando do homem médio, em termos gerais... Diferença nenhuma. Porém, não era o caso. O “cara” em questão era Jorge Ricardo.
E como já fizera por diversas vezes em sua épica carreira, Ricardo correu contra o tempo, contra as adversidades, contra tudo que pudesse impedir o seu sucesso. Como armas para a missão, apenas um quadrúpede sob suas pernas, e uma impressionante gana de vencer. Numa corrida de recuperação, Scoop não apenas ultrapassou todos os seus adversários, como também alcançou o disco 4 corpos à frente do segundo colocado, num êxito facílimo. Na face de Ricardinho, a feição de alegria, digna
do único jóquei da história a alcançar a marca de 12 mil primeiros lugares em sua trajetória nas pistas.
Aos 51 anos, Ricardo não é apenas o jóquei número 1 do mundo. Seu poder idiossincrático vai muito além, fazendo com que até mesmo os leigos, estranhos às corridas de cavalo, saibam quem é ele. E mais: eis, não apenas o exemplo de jóquei, de profissional do turfe, e sim o modelo ideal do esportista, em sua mais perfeita e íntegra acepção. Todos sabemos que o céu é o limite para Jorge Ricardo, e que sua história é escrita, acima de tudo, de grandes conquistas. Porém, para atingir este patamar, o piloto jamais utilizou-se de quaisquer meios que desabonassem seus colegas de chicote, ou o esporte como um todo. A lisura, a ética e a humildade no seu trato para com o mundo, sempre legitimaram-no a ostentar uma condição que compete a pouquíssimos homens: a de ídolo.
Desde a vitória de Taim, que rendeu a Ricardo – à época, com 15 anos de idade – seu primeiro êxito, no dia 16 de novembro de 1976, até o presente momento, o herói do turfe mundial emprestou seu talento a importantíssimas coudelarias, bem como esteve em contato direto com primorosos animais – alguns deles, entre os melhores cavalos brasileiros de todos os tempos. Ganhador de 27 estatísticas consecutivas na Gávea, e de 4 das 6 que disputara na Argentina, Ricardo tornou-se ainda bicampeão dos Grandes Prêmios Brasil, São Paulo e Carlos Pellegrini, e pentacampeão do Gran Premio Asociacion Latino Americana de Jockey Clubs e Hipódromos. Não obstante, em 2009 Ricardo correu o páreo mais tortuoso e arriscado, de toda a sua vida: a luta contra um linfoma. E claro que a vitória foi de Ricardo.
A data de 26 de maio de 2013 estampa, portanto, outra página dourada de uma odisseia em forma de homem, que atende pelo nome de Jorge Ricardo. Orgulho do turfe brasileiro. Um ícone do turfe mundial.
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